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Foto do escritorPriscila C. A. Fortunato

Como será que meu bebê vê o mundo fora da barriga?

Atualizado: 20 de out. de 2019


Um teste de gravidez confirma tudo. Cheguei! Sou celebrado desde o momento “positivo”. Fui muito desejada/o e finalmente cheguei no ventre da Mamãe. Papai já fala muito comigo . Essa jornada é muito celebrada. Entre confusão e medos, amor e ansiedade, sou muito esperado/a. Como num passe de mágica, não estou mais no conforto do ventre, mas nos braços de quem me gerou.

O mundo me parece diferente agora. Era tudo tão quentinho e protegido, agora estou mais vulnerável e tudo é mais frio por aqui.Luz luz luz! Eu vivia no escuro. Muitas pessoas se aproximam de mim com um aparelho estranho, com uma forte luminosidade . Ficam em cima de mim com este aparelho e depois o colocam no bolso. Machuca meu olho, que ainda está quase fechado. Mas tudo bem! Ainda não sei falar para não o usarem, mas sinto que o usam com amor.

Escuto muitas palavras. Ainda não conheço nenhuma além das que mamãe e papai falam. Também conheço as músicas que escutavam comigo na barriga. Ainda não sei o que significam como você sabe, mas me fazem sentir bem.

Meu aparelho auditivo ainda está em aperfeiçoamento, não entendo tudo que falam no meu entorno, mas sei que são palavras muito positivas: “Que lindo, que princesa, é sua cara, que fofura, que gostosinho” ...E daí por diante. O que será que significam? As coisas nem sempre se saem como mamãe pensou. Ela descobriu que algumas etapas dessa jornada comigo aqui do lado de fora são pouco faladas e discutidas. Ela se sente pressionada por vários agentes. Se sente sozinha, desolada, confusa e ineficiente, mas tem a mim para continuar e ter força. Eu tb preciso dela. Força ela já mostrou ter de sobra! Papai também. Papai me conhece, mas morei dentro da mamãe. Temos um elo maior até o presente momento pq ainda tenho meses de vida aqui fora. Passei mais tempo dentro dela do que aqui. Mas estou me acostumando, conhecendo o mundo externo, pessoas novas e crescendo. Estamos todos juntos nessa caminhada.

Com meu crescimento, parece que escuto os adultos com mais dúvidas ao meu respeito: “Isso é normal? Por que está acontecendo isso com ele/a? É assim mesmo, doutor? O dia na escolinha foi normal?” etc...As coisas não são tão “lindas e fofas” como já foram um dia! Mas, continuo crescendo e aprendendo. Estou começando a saber que sou um indivíduo e conseguindo fazer coisas por mim e para mim. Não entendo esse jeito que estão falando comigo! Poxa, agora sei fazer muito mais coisas! Mas muita vezes, pareço não estar agradando. Já sei andar, abrir, fechar, jogar, morder...veja só! O crescimento dos meus dentinhos foi tão doloroso! Para mim e para quem me ama! Muito celebrado por nós! Mas agora que os uso, sou recriminado muitas vezes.

Hummm...confuso! Continuo persistente e aprendendo muitas coisas. Escuto muito: “Filha/o, aí não pode! Filho/a, não. Mamãe já falou que não. Filho/a, papai vai contar até 3.” Ahhh eu também já sei contar até três! Mas não foi o caso! A contagem se deu porque fiz algo errado e vou ser punido por isso. Era um countdown para punição. Que estranho! Agora a contagem não será celebrada como em outras vezes. Mas minha intenção não era contrariar, juro! Te explico: há pouco tempo descobri que pode-se dizer "não" para alguém. É muito divertido. Alguém fala para eu fazer algo e eu posso escolher não fazer. Não sabia que existia a escolha. Coisa nova pra mim! As vezes faço isso, do mesmo jeito que vejo e escuto os adultos fazerem. Mas comigo não funciona. Eles não gostam quando eu falo não. Será que não posso? Por que? Será que é porque ainda sou criança? Mas também tenho direitos! Os adultos falam muito 4 palavras que ainda não sei bem o que significam: “respeito, educação, responsabilidade e NÃO ”. Estou tentando entender o que isso tudo significa. Afinal, ainda estou conhecendo conceitos!

Na verdade, gostaria que os adultos me explicassem mais sobre o que estas palavras significam porque é difícil entender. Muito complexo. Te dou um exemplo: Quando como fruta na minha casa, mamãe e papai ficam muito felizes. Eu também. Mas quando pego a fruta (que achei com muito esforço e explorando o ambiente ) na mochila do meu amigo na escola e dou uma baita mordidona, os adultos me falam que não pode e que é falta de (esse famoso) respeito”. Confuso não!? Falta de respeito? Mas mamãe e papai quase fizeram uma festa porque comi jabuticaba no café da manhã! Enfim...

Na escola aprendi muitas coisas, inclusive que tenho um aparelho bem potente dentro da minha cabeça. Chama cérebro. Parece que desde que nasci até os meus 5 anos ele terá a melhor performance de toda minha vida. O que eu e meus amigos conseguimos aprender em um arco de 1 ano demora 70 anos para um adulto aprender. Sabia? Pois é! Somos muito inteligentes. Mas nossa linguagem e forma de aprender é diferente, as vezes entendida (pelos adultos) como falta de respeito, desafio, maldade, entre outros conceitos que ainda nem conheço. Te dou um outro exemplo:

Quando eu era bebê colocava tudo na boca. Sempre tentavam tirar os objetos de mim e os limpavam com produtos que tinham um gosto horrível! Mas a verdade é que quando eu era bebê, eu aprendia levando os objetos à boca! Alguns estudiosos já até colocaram “adesivos” na cabeça de bebês para assistirem a atividade do cérebro, exatamente quando levávamos objetos à boca. Os estudiosos concluíram que é assim que adquirimos conhecimento quando bebês, levando-os à boca! É a nossa linguagem naquele momento de nossa vida, nossa ferramenta de entendimento.

Existem coisas que estou aprendendo agora que ficarão comigo para sempre, como a construção da minha individualidade, a formação completa da minha consciência e inconsciência. Meu próximo passo será “juntar informações” - o famoso raciocínio. Não vejo a hora! Gostaria muito que os adultos me deixassem escolher mais, agora e no futuro. Já mostrei ser capaz, ter uma resiliência infinita, ser inteligente e evoluir em um período de tempo extremamente curto. Cresço todos os dias, isso não é fácil, nem para mim e nem para quem me ama. Mas é, ao mesmo tempo, nossa maior felicidade. Quando eu tenho liberdade de escolher coisas para fazer, me sinto valorizada/o.

Também gosto muito de atividades e brinquedos que me fazem pensar, porque, como vocês bem sabem, sou uma esponjinha cheia de potenciais. Amo experimentar e, sinceramente, me saio muito bem nos meus experimentos. Quando tenho a validação de vocês então, é felicidade pura! Me sinto muito potente, a ponto de mudar o mundo. Aliás, já escutei falarem que sou o futuro do mundo. O que será isso? Vou continuar me esforçando para entender conceitos, ainda que muitos sejam estranhos e contraditórios. Sei que a vida de vocês é muito veloz e que o trabalho exige muito. Sinto muito, e sinto de verdade. Escuto muito a palavra "trabalho" - estou começando a ter uma melhor ideia do que é isso. Já até me perguntaram o que quero ser quando crescer. Mas, eu já sou! Mesmo sendo pequeno/a! Imagino que estejam falando desse famoso “trabalho” quando me perguntam o que quero ser quando crescer. Já tenho algumas ideias, mas tenho tempo para decidir.

Bem, foi bom conversar com vocês. Como disse antes, estamos juntos nessa caminhada. Acredito que, com um olhar amoroso da parte de vocês, adultos , sem julgamento, sem amargura e raiva, podemos evoluir e nos desenvolver ao mesmo tempo, cada um com sua bagagem, cada um ao seu tempo.

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